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Prisão de Hytalo Santos reacende debate sobre a adultização de crianças na internet

A prisão do influenciador digital Hytalo Santos, em São Paulo, no último dia 15, trouxe novamente à tona um debate urgente sobre a adultização de crianças e adolescentes nas redes sociais. O criador de conteúdo, que já era investigado pelo Ministério Público da Paraíba desde 2024, é acusado de expor menores em contextos de exploração digital, o que levou a Justiça a decretar sua prisão preventiva, a apreensão de equipamentos eletrônicos e a proibição de contato com adolescentes ligados ao seu grupo. Tanto ele quanto seu marido seguem detidos após audiência de custódia, com pedidos de liberdade já negados pelo Tribunal de Justiça da Paraíba e pelo Superior Tribunal de Justiça, que reconheceram a gravidade das acusações e o risco de destruição de provas.

A denúncia que ganhou repercussão nacional partiu do youtuber Felca, que em agosto publicou um vídeo denunciando práticas de sexualização precoce de crianças em conteúdos digitais e alertando para o chamado “Algoritmo P”, que poderia estar impulsionando materiais utilizados por pedófilos na internet. Entre os exemplos citados, Felca destacou o caso de Hytalo Santos e da influenciadora Kamyla Maria Silva, conhecida como Kamylinha, que teria sido exposta a esse ambiente de hipersexualização desde os 12 anos. O impacto da denúncia foi tão grande que impulsionou a discussão no Congresso sobre projetos de lei voltados ao combate da exploração infantil online, movimento já apelidado de “Lei Felca”.

O fenômeno da adultização digital vai muito além de casos isolados. Trata-se da exposição de crianças a comportamentos, estéticas e pressões próprias do mundo adulto, especialmente em relação à sexualidade, ao consumo e à performance social. Nas redes sociais, isso ocorre quando meninas e meninos passam a ser incentivados a vestir-se, dançar ou se comportar de forma que não corresponde à sua idade, muitas vezes em busca de engajamento, seguidores ou patrocínios. Esse processo não apenas compromete o direito de viver plenamente a infância, mas também amplia a vulnerabilidade dessas crianças à violência, ao abuso e à exploração.

Especialistas em desenvolvimento infantil alertam que a erotização precoce pode trazer consequências graves: aceleração forçada da maturidade emocional, baixa autoestima, insegurança e até dificuldades em estabelecer limites em relacionamentos futuros. O ambiente digital agrava esses riscos, já que a exposição massiva e o contato com desconhecidos ampliam a chance de assédio e aumentam o impacto do julgamento social — curtidas, críticas, cancelamentos — sobre a saúde mental dos menores.

A repercussão do caso Hytalo e de outros episódios recentes já provoca efeitos práticos. Projetos de lei foram apresentados para reforçar a proteção da infância no ambiente digital, estabelecendo limites mais rígidos à exposição de menores em conteúdos de caráter sexualizado. O Poder Judiciário também começa a se movimentar: decisões como a do Tribunal Regional Federal da 6ª Região, que obrigou o YouTube a incluir alertas sobre publicidade infantil abusiva e a ampliar canais de denúncia, mostram que o tema passou a ocupar o centro das discussões institucionais.

A prisão de Hytalo Santos, portanto, não é apenas mais um episódio policial. É um símbolo de um debate maior que envolve famílias, escolas, plataformas digitais e o Estado: até que ponto a sociedade tem permitido que a infância seja encurtada em nome de engajamento e lucro? O caso serve como alerta de que a adultização de crianças na internet não pode ser tratada como simples entretenimento ou escolha cultural, mas como um problema sério de violação de direitos humanos, que exige resposta firme e coordenada.

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