As Nações Unidas alertam para o risco de 4,2 milhões de meninas serem vítimas dessa prática nociva, este ano.
De acordo com as estimativas, existem mais de 200 milhões de sobreviventes. O tema em 2023 é “Parceria com Homens e Meninos para Transformar Normas Sociais e de Gênero para Acabar com a Mutilação Genital Feminina.”
Efeitos combinados
A diretora do Escritório de Genebra do Fundo da ONU para a População, Unfpa, Monica Ferro, falou à ONU News sobre a esperança para erradicar a prática mesmo em meio a dificuldades.
“Sete em cada 10 mulheres e meninas que vivem em países com alta prevalência de MGF acham que a prática deve terminar. A MGF viola os direitos de meninas e mulheres e limita as suas oportunidades de viverem uma vida com saúde, com educação e em dignidade. Numa altura em que os efeitos combinados dos conflitos, pobreza, alterações climáticas e desigualdade continuam a afetar os nossos esforços de eliminar, nos próximos oito anos, esta grave violação de direitos humanos, é preciso alterar as relações de poder e a desigualdade de género em que esta prática se baseia.”
Um dos maiores desafios está em comunidades de migrantes e diáspoas nos países europeus. A comunidade de cidadãos da Guiné-Bissau, por exemplo, notifica casos de mutilação genital em Portugal ainda que realizados no exterior. O presidente da Associação Amigos de Farim, Eduardo Djaló, fala da importância das campanhas.
“Trazer mais anciãos, pessoas mais velhas. Eles são as pessoas mais resistentes. E no caso de mulheres, isso tem a ver com seu íntimo, elas precisam expor ou falar abertamente desses assuntos. Naturalmente, isso precisa ser trabalhado precisamente com técnicos existentes na área. É preciso trabalhar pelas mulheres. Nós temos tido bastante apoio, tanto das autoridades centrais, do governo central e governo local.”
Campanha em Portugal
E atuando para aumentar a consciência contra a MGF em Portugal, a guineense Sona Fati fala da abordagem que oferece como embaixadora no país da End FGM European Network.
“Quanto mais formos, mais fácil e mais rapidamente…Eu fácil não diria. Talvez o fácil aqui seja muito facilitista. Mas, acredito que mais rapidamente conseguiremos vencer esta prática extremamente violenta contra a mulher. Contra o corpo da mulher. No entanto, não é um assunto unicamente da mulher. É um assunto da mulher, é um assunto do homem e um assunto de todos nós enquanto sociedade. E todos nós somos precisos para a luta.”
A mutilação genital feminina é uma violação abominável dos direitos humanos fundamentais com danos permanentes à saúde física e mental de mulheres e meninas, como disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Em mensagem, ele pediu urgência para se eliminar, ainda nesta década, o que chama uma das manifestações mais cruéis do patriarcado que permeia o mundo.
Uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é erradicar a prática até 2030.
Ao falar do apoio dos homens à luta contra a MGF, Guterres destaca que irmãos, pais, profissionais de saúde, professores e líderes tradicionais podem ser aliados poderosos para desafiar e acabar com esse flagelo.
Milhões de casos de mutilação genital feminina
O secretário-geral destacou que a data deve servir para ressaltar o compromisso de mudanças sociais e parcerias fortes para o fim da prática.
Estimativas indicam que mais de 200 milhões sobreviveram da mutilação genital feminina
O Unfpa e o Fundo da ONU para a Infância, Unicef, destacam que a onda de aliados masculinos, como líderes religiosos e tradicionais, profissionais de saúde, agentes da lei, membros da sociedade civil e organizações de base, leva a conquistas notáveis na proteção de mulheres e meninas.
As agências advertem que as interrupções associadas ao Covid-19 podem resultar em mais 2 milhões de casos de mutilação genital feminina na próxima década, a menos que acelere a atuação contra o problema.
Este ano, a campanha online #MenEndFGM ressalta o combate ao ato de violência de gênero usando as redes sociais.
Fonte: https://news.un.org/pt/story/2023/02/1809242