ICDH

Alienação parental, pedofilia, violência e barbarismo, a perversidade — Parte II

*By Ana Maria Iencarelli

Essa invenção do Gardner, alienação parental, foi criada para defender pais que praticavam violências em seus filhos

Dia 8 de março. Dia Internacional da Mulher. Dia de luto pelas mulheres e meninas. Comemorar? O quê? São 144 Estupros de Mulheres e Meninas por dia. Hoje, teremos mais 144 estupradas. E, no que tange às Meninas, o número é muito maior, porque os Estupros Intrafamiliares são sub-sub-notificados.
São quatro feminicídios por dia, um a cada seis horas. Hoje, teremos mais quatro Mulheres assassinadas por serem mulheres. E, cerca de 70% delas, têm filhos. Portanto, novos órfãos são determinados hoje. Foram 1410 Feminicídios no ano de 2022. Nesses últimos dias duas mulheres grávidas, em final de gestação, foram assassinadas. Morreram mãe e bebê. WWWO que estamos praticando?

Há alguns meses tomamos conhecimento da virulência generalizada de um nome de família de posses e poder de Pernambuco. Eram bem conhecidos dois irmãos, pessoas que, pela Arte, um, e pela dedicação a hobby de grande colecionador, o outro, eram internacionalmente, reconhecidos. Mas, um primo, como os pombos, veio sujar o quintal.

Dando socos numa mulher, por causa de “vez” num aparelho de ginástica numa academia, o homem foi exibido nessa cena grotesca pelas câmeras do salão. E dos socos, vimos desfilar uma playlist de violências diversas, incluindo outras vítimas de violência física, psicológica, sexual, cárcere privado e, até, marcar uma mulher com suas iniciais, como se faz com gado, tinha sido realizado. Fugiu para um país que não mantém o procedimento de extradição.

Havia uma Criança nessa história. Um menino que tinha dois anos quando esse genitor e sua mãe se separaram. Desde a separação o genitor teve supremacia em detrimento da convivência com a mãe. E logo foi dada a Guarda Unilateral para esse que “peritos” chamam de pai. Na justificativa o juiz citou trechos do Parecer do Centro de Apoio Psicossocial que afirmou que o genitor: “demonstrou ser um pai completamente investido na função de melhor educar o filho; estava comprometido com a formação da criança. O interesse, aliado à favorável situação financeira de Brennand, colocava o menor na condição de uma criança privilegiada”. PRIVILEGIADA?

sim se funda a perversidade institucional. Por que privilegiar o dinheiro no lugar do afeto? Até hoje temos essa mesma justificação, o poder aquisitivo do genitor, como sendo um critério mais importante que o afeto e o cuidado, em processos que tentam justificar o injustificável.

Numa matéria recente do UOL TAB, é descrito, com as devidas comprovações, que esse menino se tornou o saco de pancadas de seu genitor. Eram baquetas até quebrar, fio de carregador de celular, aparelho de dar choque elétrico, etc., etc., etc. Uma criança PRIVILEGIADA??? PRIVILEGIADA em quê? Tão esmagado foi que, apesar de ter tentado fugir, e de ter feito um BO contra seu agressor, retirou tudo e voltou atrás. Não vai sair de perto desse agressor porque já foi engolido por ele. É, possivelmente, uma variante da Síndrome de Estocolmo.

Poucos entendem a dimensão da violência continuada, em qualquer de suas formas, é insuperável. De fora, todos acham fácil reclamar, dizer “não” para um adulto genitor em fúria, não deixar que ele faça isso ou aquilo e, mais fácil ainda, buscar providências das Instituições, mesmo que já se tenha crescido. E quais “instituições”? A decepção e o descrédito na lei, é total. O que não se considera é que uma Criança submetida à tortura violenta não tenha consciência de que já cresceu. Ela tem certeza que o gigante continua gigante. As forças de reação da Criança foram aniquiladas.

Essa invenção do Gardner, alienação parental, foi criada para defender pais que praticavam violências em seus filhos. E, quando a reversão de guarda não é conseguida, é frequente que Mulheres e Crianças sejam assassinadas pelo “todo-poderoso”.
Hoje, não comemoramos. Estamos de luto pelos números exorbitantes da barbárie. Cada número é uma pessoa, mãe ou filho(a). Os Operadores de Justiça não são responsabilizados quando afirmam inocências ilibadas a pais que estupram, esfolam e matam. Nossa manifestação, nas areias da praia de Copacabana, homenageou mães e Crianças assassinadas nesses últimos tempos: Joanna Marcenal; Juíza Viviane Amaral; Henry Borel; Lucas e Mariah (irmãos); Stephany Paiva; Darlene; Daniela Barros Soares; Rhuana Maicon da Silva; Vitória Gabriely; João Luiz; Maria Eduarda Aff da Silva; Francisca Mendes; Daniela Perez; Carmem Dias da Silva; Evangelina Trotta; Isamara Filier; Míriam Alves Nunes; Andrea Cabral Pinheiro; Isabella Nardoni; Itamara Eny de Freitas; Letycia Fonseca; Brenda; Miguel dos Santos; João Henrique Penna; Isadora Penna; Kimberly Antunes; Letícia Barbosa; Giovanna Antunes; Mateus P. da Silva; Janaína Bezerra; Erika Cristina, e Pedro Gabriel, são alguns.

A todas as Mães, Filhos e Filhas, os anônimos, àqueles que nem a morte foi escutada, nosso RESPEITO.
P.S. Hoje, Dia Internacional da Mulher, foi presa uma mãe, levada para uma carceragem numa Delegacia de Homicídios, distante de seu domicílio. Ela perdeu a guarda da filha há mais de cinco anos, e não consegue vê-la.

(Foto: Acervo Pessoal/Ana Maria Iencarelli)


*Ana Maria Iencarelli

Psicanalista Clínica, especializada no atendimento a Crianças e Adolescentes. Presidente da ONG Vozes de Anjos, Colaboradora ICDH.

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