ICDH

“Genocídio anunciado.”

“As nossas crianças, as crianças dos outros e as de ninguém, são nossas também.”

Elisa Costa.

Releitura sobre o artigo 227 da constituição Federal de 1988, afinada aos princípios das infâncias de povos e comunidades tradicionais.

“Amare tsinorren, lê tsinorren avrengue Thai vi lê tsinorre khanikaske, si sa amare.”

Tradução de Michel Kriston, em Romanês.

“Gēl te nãl ãg tū óg vã”

Tradução de Maria Kula Patté Crendo, Língua Xokleng

“Gbogbo ọmọdé ni ojúùṣe wa.”

Tradução de Ana Rabello, em Yorùbá.

Nuestros hijos, los hijos de los demás y los hijos de nadie , también son nuestros.

Tradução de Márcia Lessa, em Espanhol.

Nos enfants, les enfants des autres et de n’importe qui, sont aussi les nôtres.

Ma traduction de l’article 227 de la Constitution Fedérale de 1988.

Tradução de Michelle Puccetti, em Francês.

Our children, others children and no ones children are ours too.

My translation of article 227 of Brazilian federal constitution of 88

Tradução de Ariadne Acunha, em inglês.

Наши дети, чужие и ничьи дети, тоже наши.

Tradução de Tatianne Orlof, em russo.

Há um Brasil que o próprio Brasil desconhece ou finge não ver ou simplesmente ignora sua existência. Não existem mais desculpas, todas já se esgotaram.

Acolher todas as Infâncias e de modo especial as mais vulneráveis. Acolher significa “oferecer refúgio, proteção ou conforto físico, dar segurança alimentar e nutricional, abrigar, amparar”.

Como acolher nossas crianças quando muitos homens e mulheres, instituições, reproduzem comportamentos excludentes de nossas crianças de modo especial as crianças de povos originários, as crianças dos povos romani/ciganos, geraizeiras, povos de terreiro, ribeirinhos e faxinalenses, as crianças quilombolas e todas as crianças de Povos e Comunidades Tradicionais.

“Todas as crianças são nossas crianças”. Nem todos nos enxergam assim. Elas somente o são quando nos devolvem algo. Elas têm algo a devolver??

As organizações acolhem quando se dispõem a ver crianças gozando de proteção integral. Quando a comunidade/sociedade civil, o estado e as organizações compreendem o seu dever e evidenciam em suas práticas conforme art. 227 da Constituição Federal, a saber, “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar a criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, a alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-las a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Quando o estado viola as crianças junto com suas famílias e a sociedade permite quem é o culpado? Pensemos?

Estamos nos referindo a tragédia humanitária, associada ao abando e a negligência do estado, a cegueira das autoridades, o menorismo dos órgãos de fiscalização e proteção, a cegueira da sociedade civil e a miséria indiferente e gananciosa de empresários e da sociedade civil, também foram responsáveis pelo extermínio de mais de 570 crianças yanomamis nos últimos cinco anos, certa de 70 delas só em 2022, segundo dados do Ministério da Justiça/2023.

Infelizmente costumamos escrever, gritar e estudar pós extermínio, talvez porque nos falte coragem ou mesmo humanidade e nos sobre esquecimento. Estamos falando de um genocídio anunciado. Estamos falando de um genocídio étnico e silencioso que se aprofunda de forma secular e tem dado muito lucro a poucos, reservando a glória, aos empresários dos garimpos, aos fabricantes de armas, as igrejas e ao Deus mercado.

Juntam-se a isso homicídios e balas “perdidas”, cotidianamente voltadas e endereçadas as infâncias negras, pardas, étnicas e tradicionais.

Cabe-nos, no âmbito a nós assegurado, pela mesma Constituição Federal de 1988, de controle e participação social, enquanto pessoas, brasileiras e brasileiros, pais, mães, irmãos e parentes, defender o fruto da terra e garantir a humanidade que existe em cada uma dessas infâncias. Não nos cabe mais o silêncio, a omissão, a arrogância do distanciamento e tão pouco o luxo dos direitos humanos. Desistir nunca coube aos que defendem e lutam pela dignidade humana.

Que tenhamos fôlego para nos aprofundar nos absurdos que se seguem em muitos outros territórios e de forma célere e humanista, construirmos um país socialmente justo para as nossas infâncias.

Desta feita, a Ass. Internacional Maylê Sara Kalí – AMSK/Brasil, a Pastoral da Criança, o Povo Laklãnõ-Xokleng, o Instituto Arns, o Observatório de Mujeres Gitanas, a Internacionalno Romani Unia/IRU – South América & Office Brasil, o Coletivo ReuneSUAS, a Associação Pestalozzi de Canoas, Escola de Conselhos de Pernambuco, Federação Romani e Afoxê Alafin Oyó, parceiros e amigos.

As organizações jurídicas e físicas descritas, assinam conjuntamente essa carta pública, a fim de que para além do apoio a todas as outras questões de responsabilização civil e criminal a serem tratadas no âmbito jurídico, afirmamos o nosso compromisso no combate a toda forma de discriminação, racismo, rromafobia/anticiganismo, violência e negligência cometidos cotidianamente e secularmente, para garantir o devido exercício e cumprimento da dignidade humana de todas as nossas infâncias.

Elisa Costa – AMSK/Brasil/Internacionalno Romani Unia/IRU – South América

Maristela Cizeski – Pastoral da Criança

Rubens Caxias Popo-Caciques da Terra Indigena LaLaklãnõ-Xokleng

Deoclecio Pripra-Cacique da Terra Indigena LaLaklãnõ-Xokleng

Lazaro Cundang Kã-mrêm- Cacique da Terra Indigena LaLaklãnõ-Xokleng

Lilian Arns – Instituto Arns

Edna Alegro – Ass. Pestalozzi Canoas

Prof. Humberto Miranda – Escola de Conselhos de Pernambuco

Michel Kriston – IRU Brasil/Driretor de Cultura

Dra. Vória Stefanovsky – Observatório de Mujeres Gitanas

Maria José Vasconcelos – Coletivo ReuneSUAS

Pedro Nicolith – Federação Romani

Francisco de Assis – Afoxê Alafin Oyó

Línguas do Patrimônio Cultural

(traduções livres do Povo Laklãnõ-Xokleng e do Povo Romani)

Povo Laklãnõ-Xokleng

Língua – Xokleng

Tradução: Maria Kula Patté Crendo

Tõ Ké nã Brasil ki ãgnõ te ve ban tū tē.

U tõ ãg ne vi pivé, pa’i bág tõ ka já mū te, ãgónhka te mē óg káglãn kan kónãg mū

Tõdé ū tõ ãg jy vê ja tū vū tē

Ū nū jé gēl te óg kí avanh jé tá blé kónhgág te og blé me og jógagtól mū.

Constituição Federal artigo 227 te ka ta lãn kū nē Ãgónhka tõ un mê te mū te óg kí havanh ge kū ta lán kū nē, mé óg ne vi jógdēg tūg.

2022 te ka pa`i bág tē ãgónhka kabág mē óg kág – lãg mū.

Kū nã vãnhgõ kū nã mē óg jy vē jãg.

Povo Romani/Cigano

Lingua: Romanês

Tradução: Michel Kriston

Amarê tsinorren, lê tsinorren avreskê thai vi lá tsinorren kai si corcorrô si sá amarê tsinorren.

Si iek Brazília kai lê manush tchi prinjaren aí kerdion kai tchi dikhen. “Ji kathe dosta”!

Trubul te dikhas o tchatchimos, trubus te ninkeras sá amarê glati te das len traio, te avel len hamos, pimos, sastimos, tê avel len patcha ande cado traio.

Trubul te marásamen zuralês, tê na mai avelamen discriminatzia, “Rromafobia”, anti-tzigania, te das iek lacho traio amarê glatengui.

Trubul amen ajutimos savorrendar, mangás katar amarê governanturiá, te dikhen pê amende, te aven pacha amende, te shai dobis kadia situatzia.

Tradução Literal

(Espanhol e Inglês)

Língua: Espanhol – Espanha

Tradução: Vória Stefanovsky

Hay un Brasil que el Brasil desconoce, o que quizás finge no verlo, o que sencillamente lo ignora. No es más posible excusas, se agotaron todas ya.

Acoger a todas las infancias y sobre todo a las más vulnerables. Acoger significa “ofrecer un refugio, protección o confort físico, brindar seguridad alimentaria y nutricional, abrigar, amparar”.

Cómo acoger a nuestros niños y niñas cuando muchos hombres y mujeres, instituciones, reproducen comportamientos que los excluyen, especialmente a los niños y niñas de los pueblos originarios, del pueblo romani\ gitano, de los gerazeiras, pueblos de terreiros, de los quilombolas y todos los niños y niñas de los Pueblos y Comunidades Tradicionales.

“Todos los niños y niñas son nuestros”, pero no todos lo ven bajo esa mirada. Consideran solamente las infancias que le devuelven algo. ¿Qué tienen que devolver?

Las organizaciones acogen cuando están direccionadas a accionar para que todos los niños y niñas gocen de protección integral. Cuando la comunidad/sociedad civil, el Estado y las organizaciones comprendan su deber y lo demuestren en sus prácticas de acuerdo con el art. 227 de la Constitución Federal:  “es deber de la familia, de la sociedad y del Estado garantizar al niño, al adolescente y al joven, con prioridad absoluta, el derecho a la vida, a la salud, a la alimentación, a la educación, al ocio, a la profesionalización, a la cultura, a la dignidad, al respeto, a la libertad y a la convivencia familiar y comunitaria, así como protegerlos de toda forma de negligencia, discriminación, explotación, violencia, crueldad y opresión”.

Cuando el Estado viola a los niños, junto con sus familias, y la sociedad lo permite, ¿Quién tiene la culpa? Pensemos.

Nos referimos a la tragedia humanitaria sumada al abandono y a la negligencia del Estado, a la ceguera de las autoridades, al menorismo de los órganos de fiscalización y protección, a la ceguera de la sociedad civil y a la miseria indiferente y codiciosa de los empresarios y de la sociedad civil. Todos ellos también han sido responsables por el exterminio de más de 570 niños y niñas yanomamis en los últimos cinco años, aproximadamente 70 solamente en el año de 2022, según datos del Ministerio de Justicia-2023.

Desgraciadamente solemos escribir, gritar o estudiar solamente después del exterminio, quizás porque nos falte valor, o posiblemente humanidad, y nos quede demasiado olvido. Hablamos de un genocidio anunciado. Hablamos de un genocidio étnico y silencioso que se ha profundizado secularmente y que ha dado muchísima ganancia a unos pocos, reservado la gloria a los empresarios de las minas, a los fabricantes de armas, a las iglesias y al Dios Mercado.

A esto hay que añadir los homicidios y las balas “perdidas” diariamente dirigidas a las infancias negras, pardas, étnicas y tradicionales.

Nos corresponde, dentro del ámbito que nos garantiza la Constitución Federal de 1988, el control y participación social, como personas, brasileñas y brasileños, padres, madres, hermanos, hermanas y parientes, defender el fruto de la tierra y asegurar la humanidad que existe en cada una de esas infancias. Ya no podemos permitirnos el silencio, la omisión, la arrogancia del distanciamiento, tampoco el lujo de los derechos humanos. No corresponde a los que defienden y luchan por la dignidad humana.

Que tengamos aliento para profundizarnos en los absurdos que aún siguen en muchos otros territorios, y de forma acelerada y humanista construir un país socialmente justo para nuestras infancias.

De esta forma, la Ass. Internacional Maylê Sara Kalí – AMSK/Brasil, la Pastoral da Criança, el Povo Laklãnõ-Xokleng, el Instituto Arns, el Observatório de Mujeres Gitanas, la Internacionalno Romani Unia/IRU – South América & Office Brasil, el Coletivo ReuneSUAS, la Associação Pestalozzi de Canoas , la Escola de Conselhos de Pernambuco, la Federação Romani e Afoxê Alafin Oyó, parceiros e amigos y las organizaciones jurídicas y físicas, firmamos conjuntamente Added to this are homicides and “stray” bullets, which are routinely directed at and addressed to black, brown, ethnic and traditional childhoods.

It is up to us, within the scope assured to us by the same Federal Constitution of 1988, of social control and participation, as people, Brazilians and Brazilians, fathers, mothers, siblings and relatives, to defend the fruit of the earth and guarantee the humanity that exists in each of these childhoods. Silence, omission, the arrogance of distancing and the luxury of human rights are no longer ours. Giving up was never up to those who defend and fight for human dignity.

May we have the breath to delve into the absurdities that follow in many other territories and, in a quick and humanist way, build a socially fair country for our childhoods. This time, Ass. Internacional Maylê Sara Kalí – AMSK/Brasil, Pastoral da Criança, Povo Laklãnõ-Xokleng, Instituto Arns, Observatório de Mujeres Gitanas, a Internacionalno Romani Unia/IRU – South América & Office Brasil, Coletivo ReuneSUAS, Associação Pestalozzi de Canoas, , Escola de Conselhos de Pernambuco, Federação Romani e Afoxê Alafin Oyó, partners and friends – and the legal and physical organizations described below, sign jointly this public letter, so that in addition to supporting all other civil and criminal liability issues to be dealt with in the legal framework, we affirm our commitment to combating all forms of discrimination, racism, rromaphobia/anti-gypsyism, violence and negligence committed daily and secularly, to ensure the due exercise and fulfillment of the human dignity of all our childhoods. esta carta pública, para que, aparte de apoyar a todas las demás cuestiones de responsabilidad civil y penal que deben ser tratadas en el ámbito jurídico, afirmemos nuestro compromiso en el combate de toda forma de discriminación, racismo, rromafobia/antigitanismo, violencia y negligencia cometidos de forma cotidiana y secular, en pro de garantizar el debido ejercicio y cumplimiento de la dignidad humana de todas nuestras infancias.

Language : Inglês/USA

Internacionalno Romani Unia/IRU – South América & Office Brazil

Translation: Ariadyne Acunha e Elisa Costa

Announced genocide.

“Our children, other people’s children and nobody’s children, are ours too.”

Re-reading of Article 227 of the 1988 Federal Constitution, in tune with the principles of childhoods from the traditional peoples and communities.

There is a Brazil that Brazil itself does not know or pretends not to see or simply ignores its existence. There are no more excuses, they’ve all run out.

Welcoming all childhoods and especially the most vulnerable. To welcome means “to offer refuge, protection or physical comfort, to provide food and nutritional security, to shelter, to support”.

How to welcome our children when many men and women, institutions, reproduce behaviors that exclude our children, especially the children of native people, the children of the Romani/gypsy people, geraizeiras, terreiro people, riverside and faxinalenses, the quilombola children and all children from Traditional People and Communities.

“All children are our children”. Not everyone sees us that way. They are only so when they give something back to us. Do they have something to give back??

Organizations welcome when they are willing to see children enjoying full protection. When the community/civil society, the state and organizations understand their duty and demonstrate in their practices according to art. 227 of the Federal Constitution, namely, “it is the duty of the family, society and the State to ensure the child, adolescent and young person, with absolute priority, the right to life, health, food, education, leisure, professionalization, culture, dignity, respect, freedom and family and community life, in addition to protecting them from all forms of negligence, discrimination, exploitation, violence, cruelty and oppression”.

When the state violates children along with their families and society allows it, who is to blame? Let’s think.

We are referring to the humanitarian tragedy, associated with abandon and negligence by the state, the blindness of the authorities, the negligence of inspection and protection bodies, the blindness of civil society and the indifferent and greedy misery of businessmen and civil society, were also responsible for the extermination of more than 570 Yanomami children in the last five years, around 70 of them in 2022 alone, according to data from the Ministry of Justice/2023.

Unfortunately, we tend to write, scream and study post-extermination, perhaps because we lack courage or even humanity and we are about to be forgotten. We are talking about an announced genocide. We are talking about an ethnic and silent genocide that is deepening in a secular way and has given a lot of profit to a few, reserving the glory, to the entrepreneurs of the mines, to the arms manufacturers, the churches and the God of the market.

AMSK/Brasil Pastoral da Criança IRU – South America

AMSK/Brasil: contato@amsk.org.br (61) 99812 97 08/ Pastoral da Criança: cizeski.maristela@gmail.com (47) 99980 47 61

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